O prefeito de Turilândia, Paulo Curió (União Brasil), e a primeira-dama Eva Curió se entregaram às autoridades nesta quarta-feira, 24 de dezembro de 2025, após serem considerados foragidos durante o cumprimento dos mandados da Operação Tântalo II, deflagrada pelo Ministério Público do Maranhão (MPMA).
O casal não foi localizado na primeira fase da operação, quando o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) cumpria mandados de prisão preventiva expedidos pela Justiça. Diante disso, ambos passaram a ser tratados como foragidos até a apresentação espontânea às autoridades.
A Operação Tântalo II investiga um suposto esquema de desvio sistemático de recursos públicos no município de Turilândia, com prejuízo estimado em R$ 56,3 milhões. Segundo o MPMA, os valores teriam sido desviados por meio de contratos fraudulentos, fraudes em licitações e da prática conhecida como “venda de notas fiscais”.
De acordo com as investigações, Paulo Curió é apontado como o líder da organização criminosa, que teria atuado de forma estruturada dentro da administração municipal, envolvendo agentes públicos, familiares e aliados políticos. Empresas contratadas pelo município teriam emitido notas fiscais sem a efetiva prestação de serviços e devolvido entre 82% e 90% dos valores recebidos, principalmente ao prefeito.
Informações divulgadas pelo MPMA confirmam que a Justiça determinou o bloqueio de R$ 56.328.937,59 e a apreensão de quase R$ 5 milhões em dinheiro vivo durante as diligências. Em apenas um dos alvos, localizado em São Luís, foram encontrados cerca de R$ 4 milhões em espécie.
Deflagrada na última segunda-feira, 22, a operação cumpriu 51 mandados de busca e apreensão e 21 mandados de prisão, por decisão da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Maranhão, assinada pela desembargadora Maria da Graça Peres Soares Amorim. A ação é um desdobramento da Operação Tântalo, realizada em fevereiro deste ano.
Além do prefeito e da primeira-dama, a Justiça determinou a prisão preventiva da vice-prefeita Tanya Mendes e do marido, da ex-vice-prefeita Janaína Soares Lima e do esposo, além de integrantes do núcleo financeiro e administrativo do esquema. Outros 11 investigados, todos vereadores do município, tiveram prisão domiciliar decretada, com uso de tornozeleira eletrônica.
Também foram impostas medidas cautelares, como o afastamento do prefeito e da vice-prefeita dos cargos, a suspensão das atividades econômicas do contador apontado como operador financeiro do grupo, a proibição de novas contratações pela prefeitura e a suspensão de pagamentos às empresas investigadas.
Nos bastidores do Judiciário, a entrega do prefeito e da primeira-dama às vésperas do Natal foi considerada atípica. Operadores do Direito avaliam, de forma reservada, que a estratégia pode estar relacionada ao recesso forense, com expectativa de análise célere de pedidos de habeas corpus antes do avanço de novas medidas judiciais.
Os materiais apreendidos — incluindo documentos e aparelhos eletrônicos — serão analisados pelo Gaeco e pelo Laboratório de Tecnologia Contra a Lavagem de Dinheiro (LAB-LD), com o objetivo de reforçar o conjunto probatório e subsidiar o eventual oferecimento de denúncia pelo Ministério Público.

