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*Veja quem são os 21 alvos de prisão da operação do Gaeco que mira prefeito, vice, primeira-dama e todos os vereadores de Turilândia*

Adesembargadora Graça Amorim, do Tribunal de Justiça do Maranhão, determinou a prisão preventiva de dez pessoas e a prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica de outras 11 na nova fase da Operação Tântalo, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) do Ministério Público do Maranhão nesta segunda-feira (22).

Entre os principais alvos estão o prefeito de Turilândia, José Paulo Dantas Silva Neto, o Paulo Curió (União Brasil), e sua esposa, a primeira-dama Eva Curió; a vice-prefeita Tanya Mendes (PRD) e o marido dela; a ex-vice Janaína Soares Lima e o marido dela; além de todos os 11 vereadores da cidade, que teriam recebido propinas em troca de apoio político e omissão na fiscalização das contas do Executivo.

Também foi determinado o afastamento cautelar das funções públicas do prefeito, da vice-prefeita, da pregoeira Clementina de Jesus Pinheiro Oliveira e da chefe do Setor de Compras, Gerusa de Fátima Nogueira Lopes. O contador Wandson Jonath Barros, apontado como operador financeiro do esquema, teve a suspensão de suas atividades econômicas decretada. A Justiça ainda autorizou o bloqueio de R$ 22,3 milhões nas contas dos investigados e determinou a suspensão de pagamentos e a proibição de novas contratações com as empresas investigadas.

Ao todo, a Operação Tântalo II cumpriu também 51 mandados de busca e apreensão e mira ainda dez empresas ligadas ao esquema. Quase R$ 2 milhões foram apreendidos durante a operação. Os investigados são suspeitos de participação em organização criminosa voltada ao desvio sistemático de recursos públicos de Turilândia.

As decisões detalham a função de cada investigado no esquema que, segundo o Ministério Público, causou prejuízo de mais de R$ 56 milhões aos cofres do município. As irregularidades teriam começado em 2021 e persistido mesmo após a primeira fase da Operação Tântalo, deflagrada em fevereiro deste ano. De acordo com o Gaeco, o esquema operava por meio da chamada “venda de notas fiscais”, em que empresas eram contratadas pela prefeitura, emitiam notas fiscais sem executar os serviços e devolviam entre 82% e 90% dos valores aos integrantes do esquema, principalmente Paulo Curió.

Turilândia tem cerca de 31,6 mil habitantes e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,536, considerado muito baixo pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A receita municipal depende quase integralmente (97,24%) de transferências obrigatórias da União e do Estado. Mais de 40% da população é beneficiária do Bolsa Família, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social. O município tem apenas duas escolas de ensino médio, nenhum hospital e saneamento básico que atende apenas 2% da população, ainda segundo dados do IBGE, citados pela magistrada na decisão.

O Atual7 procurou Curió e a Prefeitura de Turilândia para posicionamento, mas não houve retorno. A reportagem não conseguiu contato das defesas dos investigados até o momento desta publicação. O espaço segue aberto para manifestação.

Família Curió
Paulo Curió é apontado como líder máximo da organização criminosa. Segundo o Ministério Público, ele era o principal destinatário dos recursos desviados e utilizava sua posição de ordenador de despesas para direcionar licitações e cooptar agentes políticos.

Em menos de cinco anos, o prefeito teria acumulado patrimônio incompatível com sua renda declarada. Os bens citados pelo Gaeco são uma casa no bairro Calhau, em São Luís, avaliada em R$ 3,7 milhões; outra residência em Turilândia, de R$ 1,6 milhão; uma casa em condomínio de luxo em Barreirinhas; e um apartamento no Edifício Al Mare, na capital, de R$ 3,1 milhões, registrado em nome de terceiro.

A esposa do prefeito, Eva Maria Oliveira Cutrim Dantas, a Eva Curió, que também teve a prisão preventiva decretada, segundo o Gaeco, gerenciava contas da prefeitura e da Câmara Municipal, operacionalizava transferências ilícitas e articulava a compra de imóveis para lavar o dinheiro desviado. Treze dias após a deflagração da Operação Tântalo, o casal constituiu uma nova empresa, a Paraíso Verde Agropecuária Ltda, com capital de R$ 350 mil, supostamente para dar continuidade ao esquema.

O irmão do prefeito, Marcel Everton Dantas Silva, o Marcel Curió, também é citado na investigação. Ele foi prefeito de Governador Nunes Freire, interior do Maranhão, e responde a ação penal por organização criminosa e lavagem de dinheiro naquele município, com prejuízo apurado de R$ 31,8 milhões. O Ministério Público sustenta que a família Curió teria “migrado” de Governador Nunes Freire para Turilândia após as eleições de 2020, quando Marcel perdeu novamente a eleição e Paulo venceu.

Outros familiares aparecem como beneficiários do esquema. O pai do prefeito, Domingos Sávio Fonseca Silva, o Domingos Curió, teria atuado na execução parcial de obras para mascarar a inexecução contratual; a irmã, Taily de Jesus Everton Silva Amorim, teve mensalidades escolares pagas com dinheiro desviado; e a mãe, Angela Maria Ewerton, recebeu R$ 15 mil em transferência determinada pelo prefeito.

Quem são os 21 alvos de prisão

Prisão preventiva (10 pessoas)

José Paulo Dantas Silva Neto, o “Paulo Curió” (Prefeito)

É apontado como líder máximo da organização criminosa instalada na Prefeitura de Turilândia. Na condição de ordenador de despesas, teria orquestrado fraudes licitatórias, direcionado certames e cooptado agentes políticos. As investigações indicam que ele acumulou patrimônio superior a R$ 10 milhões em menos de cinco anos, incompatível com sua renda declarada. Em conversas interceptadas, discutia abertamente com o operador financeiro Wandson Barros a gestão dos pagamentos ilícitos, a escolha de empresas e a distribuição dos valores desviados. Em um dos diálogos, ao perguntar sobre uma empresa vencedora de licitação de R$ 1,1 milhão, questionou: “Essa é a outra nossa?”, obtendo resposta afirmativa. Já respondia a processo criminal por fatos similares ocorridos em Governador Nunes Freire, onde teria intermediado desvios comandados pelo irmão Marcel Curió.

Eva Maria Oliveira Cutrim Dantas, a Eva Curió (Esposa do prefeito)

Integrante do núcleo financeiro da organização criminosa, é apontada como participante ativa nos desvios. Gerenciava contas da Prefeitura e da Câmara Municipal, utilizando-as para pagamento de despesas pessoais da família. Segundo o Relatório de Análise Bancária do Ministério Público, realizava transferências fracionadas para contas de terceiros, incluindo familiares e empresas ligadas ao esquema. Em diálogos interceptados, aparece preocupada com a rastreabilidade dos pagamentos de sua faculdade, feitos diretamente por empresas contratadas pela prefeitura. Também articulava a compra de imóveis como forma de lavar o dinheiro desviado. Recebeu diretamente ao menos R$ 433 mil em transferências de diversos investigados.

Tanya Karla Cardoso Mendes Mendonça (Vice-prefeita)

Substituiu Janaína Soares Lima na chapa majoritária e, segundo o Ministério Público, representou a continuidade da lógica de dominação político-financeira da organização. É sobrinha de Marlon Serrão e filha do ex-prefeito Alberto Serrão. Antes mesmo de assumir o cargo, já indicava empresas para figurarem como destinatárias de recursos desviados. Recebia valores do Posto Turi desde dezembro de 2022, quando nem integrava a chapa eleitoral, o que demonstra vínculo prévio com a organização. Sua permanência na Vice-Prefeitura, segundo a decisão judicial, confere-lhe acesso a informações sensíveis e capacidade de interferir na instrução probatória.

Hyan Alfredo Araújo Mendonça Silva (Esposo da vice-prefeita)

Desempenha função relevante no esquema ao indicar empresas para emissão de notas fiscais frias, com percentuais previamente ajustados entre 12% e 15%. Em conversas interceptadas, aparece atuando conjuntamente com Wandson Barros na operacionalização dos repasses ilícitos, convertendo valores desviados em ativos aparentemente lícitos por meio de pessoas físicas e jurídicas interpostas.

Wandson Jonath Barros (Operador financeiro)

Embora sem cargo formal na prefeitura desde 2021, atuava como “braço direito” do prefeito, recebendo ordens diretas, minutando documentos oficiais e gerenciando toda a logística dos desvios. Recebia 3% dos valores dos contratos fraudados. Utilizava suas empresas — WJ Barros Contabilidade e Agromais Pecuária e Piscicultura — para lavar o dinheiro desviado. Também criou empresas de fachada em nome de “laranjas” para uso exclusivo de Paulo Curió, como a Luminer e Serviços Ltda. Em diálogos interceptados, discutia com o prefeito formas de se resguardar das investigações, incluindo a adulteração de extratos bancários. Um dos registros mostra que, ciente da ilicitude, brincou com um vereador: “vamos logo nós 2 pra cadeia nessa porra kkk”. Teve a suspensão de sua atividade de contador determinada pela Justiça.

Janaína Soares Lima (Ex-vice-prefeita)

Exerceu o cargo de vice-prefeita na gestão anterior e é apontada como integrante do núcleo empresarial da organização. Junto com o marido Marlon Serrão, controlava de fato a empresa Posto Turi Ltda ME, que sozinha recebeu R$ 17,2 milhões da Prefeitura de Turilândia. O casal retinha 10% de cada contrato — chamado de “imposto” nos diálogos —, a pretexto de custear a graduação de Janaína em Medicina. Os 90% restantes eram distribuídos conforme ordens de Paulo Curió e Wandson Barros.

Marlon de Jesus Arouche Serrão (Empresário, marido da ex-vice)

Sócio de fato do Posto Turi, operava diretamente os desvios junto com a esposa Janaína. Mesmo após a Operação Tântalo e o bloqueio judicial das contas da empresa, articulou manobra para retirar valores bloqueados por meio de “depósito reconhecido”, instruindo terceiros sobre como proceder com auxílio de um funcionário do banco. Essa conduta, segundo o Ministério Público, demonstra “ousadia e persistência na prática delitiva”.

Clementina de Jesus Pinheiro Oliveira (Pregoeira)

Presidente da Comissão Permanente de Licitação do município, é apontada como peça-chave no direcionamento de certames. Segundo o Ministério Público, era responsável por direcionar “95% ou mais” das licitações a mando do prefeito. Em conversas interceptadas, aparece se justificando quando uma empresa previamente escolhida não venceu um pregão. Também discutia com Paulo Curió a necessidade de “arrumar a empresa” para publicar editais. Em troca, recebia aumentos salariais, “presentes” e valores em espécie.

Gerusa de Fátima Nogueira Lopes (Chefe do Setor de Compras)

Auxiliava na gestão financeira dos desvios e na ocultação da inexecução dos contratos. Utilizava sua conta pessoal para pagamentos de fornecedores da prefeitura, promovendo confusão patrimonial entre recursos públicos e privados. Mantinha controle minucioso de pagamentos ilícitos em anotações manuscritas apreendidas em sua residência, incluindo repasses a vereadores. Recebeu R$ 386,5 mil em 47 transferências de investigados. Solicitava parte dos repasses em espécie, por receio de movimentar valores elevados em sua conta. É irmã da vereadora Inailce Lopes, a parlamentar que mais recebeu valores no esquema.

Eustáquio Diego Fabiano Campos (Médico)

Atuava como agiota e na lavagem de capitais. Financiou o prefeito com empréstimos a juros antes do início dos desvios em larga escala e, depois, participou da aquisição de imóveis como interposta pessoa para ocultar o patrimônio de Paulo Curió. Pagou a entrada de R$ 700 mil de uma casa de R$ 3,7 milhões adquirida pelo prefeito. Uma escritura de imóvel de R$ 1,6 milhão foi lavrada em nome de seu irmão, mas destinada ao uso de Paulo Curió, registrada em cartório a 318 km de Turilândia para dificultar rastreamento. Recebeu R$ 905,5 mil em transferências fracionadas do esquema e remeteu R$ 1 milhão à empresa Agromais Pecuária.

Prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica (11 vereadores)
A desembargadora Graça Amorim determinou prisão domiciliar com monitoramento eletrônico a todos os vereadores, proibindo contato com demais investigados e testemunhas. Excepcionalmente, segundo a decisão, os parlamentares podem comparecer à Câmara Municipal em dias úteis, das 8h às 17h, para tratar de assuntos estritamente legislativos. Abaixo, o envolvimento de cada vereador na organização criminosa, segundo o Gaeco.

Gilmar Carlos Gomes Araújo (União Brasil, Presidente da Câmara)

Recebeu R$ 14,3 mil diretamente em sua conta, de Wandson Barros, do prefeito Paulo Curió e da empresa Luminer. Por intermédio de sua esposa, Natália Sampaio, recebeu mais R$ 44,3 mil. Autorizou que a esposa do prefeito, Eva Dantas, assumisse o controle das contas da Câmara destinadas aos Fundos Municipais. Enviava comprovantes de transferências bancárias da Câmara para a conta tributária da Prefeitura a Wandson Barros, evidenciando que a organização criminosa realizava desvios diretamente por essas operações. Também mantinha “acordos” com o prefeito para aluguel informal de seus caminhões.

Mizael Brito Soares (União Brasil)

Recebeu R$ 122,4 mil em sua conta pessoal, oriundos de empresas contratadas pela prefeitura no esquema de “venda de notas”. Em conversas registradas, o prefeito admitiu que Mizael “pegou dinheiro da Prefeitura”.

Nadianne Judith Vieira Reis (PRD)

Recebeu R$ 75,6 mil diretamente, além de três parcelas de R$ 75 mil, R$ 75 mil e R$ 20 mil via esposo e filhas. Tinha direito a indicar 50 servidores para a folha de pagamento da prefeitura.

Daniel Barbosa Silva (União Brasil)

Recebeu R$ 54,6 mil em sua conta, além de três parcelas de R$ 50 mil em espécie. Tinha direito a indicar comissionados na prefeitura.

Josias Froes (Solidariedade)

Recebeu R$ 11 mil diretamente e mais valores via filho (Walisson). Consta em anotações como destinatário de duas parcelas de R$ 50 mil em espécie. Tinha direito a indicar 15 servidores.

Inailce Nogueira Lopes (União Brasil)

A mais beneficiada entre os parlamentares. Recebeu R$ 110,9 mil por meio de seu esposo e R$ 107,1 mil por intermédio de sua irmã Neime. É também irmã de Gerusa Lopes, chefe do Setor de Compras, que recebeu R$ 386,5 mil. Aparece em registros como destinatária de três parcelas de R$ 50 mil pagas em espécie. Indicava servidores para a folha de pagamento e recebia valores mensais referenciados como “encomendas”.

Carla Regina Pereira Chagas (PRD)

Recebeu R$ 5,6 mil diretamente, oriundos da empresa Luminer, de Wandson Barros e do próprio prefeito. Aparece como beneficiária de três pagamentos em espécie de R$ 50 mil cada. Seu esposo, Isanei Rodrigues Soares, é secretário municipal de Infraestrutura e recebeu R$ 103,3 mil.

José Luís Araújo Diniz, o “Pelego” (União Brasil)

Recebeu R$ 18,6 mil em sua própria conta, valores da empresa Luminer, de Wandson Barros e do prefeito. Consta em anotações apreendidas como destinatário de três parcelas de R$ 50 mil em espécie.

Sávio Araújo e Araújo (PRD)

Recebeu R$ 27 mil em sua conta e R$ 13,6 mil via seu pai, Aldecir Araújo. Consta em anotações como beneficiário de duas parcelas de R$ 75 mil pagas em espécie.

José Ribamar Sampaio (União Brasil)

Recebeu R$ 77,9 mil em sua conta e R$ 127,5 mil por intermédio de quatro filhos. Consta em anotações como destinatário de três parcelas de R$ 66,6 mil em espécie.

Valdemar Barbosa (Solidariedade), vereador licenciado, atual secretário municipal de Agricultura

Recebeu R$ 4,3 mil diretamente e R$ 21 mil via companheira. Consta como destinatário de duas parcelas de R$ 50 mil em espécie. Pedia “gordos presentes” ao esquema.

Fonte:atual 7.com

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